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Joeson, o capataz da Fazenda São Judas. |
Em meados de setembro de 2021,
tive a honra de ser convidado a testemunhar uma comitiva de gado, que se
iniciava na Estrada Parque do Pantanal. A cena era monumental: aproximadamente
1000 cabeças de gado, um mar de vida movendo-se em uníssono através da vastidão
do Pantanal. Naquela época, o bioma sofria com uma severa estiagem, e o pasto,
outrora abundante, não sustentava mais os animais.
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Preparando para a missão. |
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Piquete onde o rebanho passou a noite. |
A solução foi levar o rebanho
para a Fazenda São Judas, onde seriam engordados numa invernada. Mas primeiro,
os vaqueiros tinham a missão de conduzir o gado até a sede da fazenda, uma
jornada de 20 km através de uma estrada vicinal que liga a Estrada Parque ao
coração do Pantanal do Abobral. A tarefa exigia habilidade e resistência,
características que meus amigos peões possuíam de sobra. Entre eles, o capataz
Joeson, conhecido como Gordinho, que fazia o melhor churrasco que já provei,
Paulo Formiga, o pequeno grande homem Sales, e o Paulo Paraguaio, que vinha com
o trator carregando os mantimentos e outras tralhas do acampamento.
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Simplicidade aconchegante. |
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Na sombra de antigos gigantes. |
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Imersão. |
Chegaram alguns dias antes e acamparam ali mesmo, à espera dos caminhões e para avaliar o rebanho. Os cavalos já estavam prontos para a ação. O desjejum começou antes do raiar do sol com um tradicional quebra-torto, composto de arroz e carne de charque, uma iguaria feita com carne de vaca salgada e seca, preparada pelos próprios peões.
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Paulo preparando a iguaria quebra-torto. |
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Auxilio chegando para a jornada. |
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Paulo "Formiga" ajeitando sua montaria. |
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Cidão e sua montaria pronta para ação. |
Com o sol ainda nascendo, o
trabalho já começava, numa tentativa de evitar o calor abrasador que o dia
prometia. Por volta das 7 da manhã, o termômetro já marcava 34°C. A natureza do
Pantanal oferecia algumas poças de água, onde os animais se refrescavam sempre
que podiam, uma cena que trazia alívio tanto para o gado quanto para os homens.
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O calor opressor, onde a sombra é só debaixo do chapéu. |
O método de condução era simples,
mas exigente: dois ponteiros guiavam os animais à frente, dois meieros
protegiam os flancos para evitar dispersões, e os culateiros incentivavam os
retardatários a seguirem junto do grupo. Atravessaram o percurso em
aproximadamente 8 horas. O que vi foi
impressionante e comovente.
A cultura da pecuária no Pantanal
é uma mistura de tradição e resistência. As comitivas são um espetáculo à
parte, uma sinfonia de coordenação entre homem e animal, onde cada movimento é
crucial. A lida no Pantanal é intensa e perigosa, mas a determinação dos peões
é admirável. Felizmente, naquela ocasião, tudo correu bem, e os peões e animais
chegaram em segurança à Fazenda São Judas, cumprindo com maestria a sua missão.
A experiência ficou gravada em
minha memória, uma prova da bravura e da competência dos pantaneiros, que
mantêm viva uma tradição rica e fascinante, mesmo diante das adversidades da
natureza.