22 maio, 2024

Sob o sol: Entre Gado e Bravura

 

Joeson, o capataz da Fazenda São Judas.


Em meados de setembro de 2021, tive a honra de ser convidado a testemunhar uma comitiva de gado, que se iniciava na Estrada Parque do Pantanal. A cena era monumental: aproximadamente 1000 cabeças de gado, um mar de vida movendo-se em uníssono através da vastidão do Pantanal. Naquela época, o bioma sofria com uma severa estiagem, e o pasto, outrora abundante, não sustentava mais os animais.


Preparando para a missão.



Piquete onde o rebanho passou a noite.

A solução foi levar o rebanho para a Fazenda São Judas, onde seriam engordados numa invernada. Mas primeiro, os vaqueiros tinham a missão de conduzir o gado até a sede da fazenda, uma jornada de 20 km através de uma estrada vicinal que liga a Estrada Parque ao coração do Pantanal do Abobral. A tarefa exigia habilidade e resistência, características que meus amigos peões possuíam de sobra. Entre eles, o capataz Joeson, conhecido como Gordinho, que fazia o melhor churrasco que já provei, Paulo Formiga, o pequeno grande homem Sales, e o Paulo Paraguaio, que vinha com o trator carregando os mantimentos e outras tralhas do acampamento.


Simplicidade aconchegante.




Na sombra de antigos gigantes.

Imersão.





Chegaram alguns dias antes e acamparam ali mesmo, à espera dos caminhões e para avaliar o rebanho. Os cavalos já estavam prontos para a ação. O desjejum começou antes do raiar do sol com um tradicional quebra-torto, composto de arroz e carne de charque, uma iguaria feita com carne de vaca salgada e seca, preparada pelos próprios peões.

Paulo preparando a iguaria quebra-torto.




Auxilio chegando para a jornada.




Paulo "Formiga" ajeitando sua montaria.






Cidão e sua montaria pronta para ação.






Com o sol ainda nascendo, o trabalho já começava, numa tentativa de evitar o calor abrasador que o dia prometia. Por volta das 7 da manhã, o termômetro já marcava 34°C. A natureza do Pantanal oferecia algumas poças de água, onde os animais se refrescavam sempre que podiam, uma cena que trazia alívio tanto para o gado quanto para os homens.



O calor opressor, onde a sombra é só debaixo do chapéu.


O método de condução era simples, mas exigente: dois ponteiros guiavam os animais à frente, dois meieros protegiam os flancos para evitar dispersões, e os culateiros incentivavam os retardatários a seguirem junto do grupo. Atravessaram o percurso em aproximadamente 8 horas. O que vi foi impressionante e comovente.










A cultura da pecuária no Pantanal é uma mistura de tradição e resistência. As comitivas são um espetáculo à parte, uma sinfonia de coordenação entre homem e animal, onde cada movimento é crucial. A lida no Pantanal é intensa e perigosa, mas a determinação dos peões é admirável. Felizmente, naquela ocasião, tudo correu bem, e os peões e animais chegaram em segurança à Fazenda São Judas, cumprindo com maestria a sua missão.


A experiência ficou gravada em minha memória, uma prova da bravura e da competência dos pantaneiros, que mantêm viva uma tradição rica e fascinante, mesmo diante das adversidades da natureza.








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